Coelhinhos em tempos de crise

kátia-muniz2Por: Katia Muniz                                                                   katiacronicas@gmail.com

No ano passado, escrevi um texto em que comentava da dificuldade de não se render aos apelos das crianças quando pedem, antecipadamente, ovos de Páscoa. Elas não têm muita calma para aguardar o grande dia e os pais não têm tanta paciência para negociações. Resultado: chocolates e mais chocolates são devorados com muita antecedência.

Neste ano, a crise nos oferece grandes lições. Uma delas é que as crianças, com ou sem birra, vão ter que esperar para, quem sabe, ganhar um. Somente um, nada de exageros. E quem tem mais filhos? Um só. Hora de colocar em prática a solidariedade. Dividam o ovo ao meio e tirem par ou ímpar para ver quem vai ficar com o brinquedo.

Por enquanto, o parreiral de ovos de Páscoa, dispostos estrategicamente perto dos balcões refrigerados, ainda está bem fechado, promovendo aquele escurinho que impossibilita a entrada da luz direta. Seria até romântico, se não fosse um assalto ao bolso.

Uma caixa de bombom chegando bem próximo a R$ 10,00 e ovos de Páscoa com preços nas alturas golpeiam o estômago, antes mesmo de serem devorados.

As moças contratadas para fazerem as propagandas e as demonstrações dos famigerados brinquedos, que ocupam o recheio dos ovos, ainda são pouco solicitadas pelos compradores. Elas esperam, ansiosas, que, nesta semana, o quadro mude. Que possam, enfim, recolher o bocejo, proveniente do cansaço de horas em pé e que, no lugar desse esgotamento, apareça um belo sorriso.

Famílias passeiam, por baixo do parreiral, com os pescoços esticados e os olhos arregalados comparando preços, enquanto os baixinhos disparam as solicitações: “Eu quero do Homem Aranha.” “Eu quero da Cinderela.” “Eu quero do Bob Esponja, da Barbie, do Batman, dos Smurfs, da Galinha Pintadinha, da Peppa, do Thor”.

Opções aos montes. Dinheiro à míngua.

Papais e mamães soltam a fala num tom de desesperança: “Ah crianças, vão ter que esperar!”

Aqui é o país “do jeitinho”. As crianças vão ganhar nem que seja um brigadeiro de colher. Mas é fato que o consumidor se comporta de maneira diferente e vem driblando, como pode, a atual situação econômica.

É criançada, bem-vindos, talvez, à primeira aula de economia. A crise é geral e não poupa nem os coelhinhos.

 

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